sábado, 17 de novembro de 2012

Água!

(© Gabriel Osório de Barros)

Tu não tens gosto, nem cor nem aroma.
Não podemos definir-te,
Saboreamos-te sem te conhecermos.
Tu não és necessária à vida: tu és a própria vida!
Tu penetra-nos dum prazer
Que não se explica pelos sentidos.
Contigo reentram em nós os poderes
Aos quais tínhamos renunciado…
Por tua graça,
Abrem –se em nós todas as fontes corrompidas do nosso coração
Tu és a maior riqueza que existe no mundo,
E és também a mais delicada,
Tu, tão pura no ventre da terra.
Pode-se morrer a dois passos dum lago de água salgada.
Pode-se morrer de dois litros de orvalho que alguns sais retêm em suspensão.
Tu não aceitas mistura alguma,
Tu não suportas alteração alguma,
Tu és uma desconfiada divindade…
Mas tu espalhas em nós
Uma felicidade infinitamente simples.

(Antoine de Saint-Exupéry, in Terra dos Homens)


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