terça-feira, 13 de novembro de 2012

Estátua


(© Gabriel Osório de Barros)

Cansei-me de tentar o teu segredo: 
No teu olhar sem cor, de frio escalpelo, 
O meu olhar quebrei, a debatê-lo, 
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo 
E minha obsessão! Para bebê-lo 
Fui teu lábio oscular, num pesadelo, 
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado, 
Esfriou sobre o mármore correto 
Desse entreaberto lábio gelado...

Desse lábio de mármore, discreto, 
Severo como um túmulo fechado, 
Sereno como um pélago quieto.

(Camilo Pessanha, in 'Clepsidra')

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