terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Lanterna

(© Gabriel Osório de Barros)

O sabio antigo andou pelas ruas d'Athenas,
Com a lanterna accesa, errante, à luz do dia,
Buscando o varão forte e justo da Utopia,
Privado de paixões e d'emoções terrenas.

Eu tambem que aborreço as cousas vãs, pequenas
E que mais alto puz a sã Philosophia,
Ha muito busco em vão--ha muito, quem diria!
O mais cruel ideal das concepções serenas.

Tenho buscado em balde, e em vão por todo o mundo;
Esconde-se o ideal no sitio mais profundo,
No mar, no inferno, em tudo, aonde existe a dôr!...

De sorte que hoje emfim, descrente, resignado,
Concentrei-me em mim só, n'um tedio indignado,
E apaguei a lanterna - É só um sonho o Amor!

(António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul')


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